Tempo Sem Sol
- Marina Metri
- 27 de jun. de 2017
- 2 min de leitura
“Mede-se a cultura de um povo pelo seu teatro”. Com essa frase dita pelo poeta e dramaturgo espanhol Federico Garcia Lorca, inicia a nossa crítica ao atual momento do teatro no Brasil.
No dia 21 de junho, os jornais do país estampavam a notícia de mais um espaço fechando suas portas. O Teatro Leblon, no Rio de Janeiro, suspenderá suas atividades a partir do dia 3 de julho, sem nenhuma previsão de data para voltar a funcionar.
Até o início do ano passado, funcionavam no local três salas, batizadas com os nomes das atrizes Tônia Carrero, Fernanda Montenegro e Marília Pêra, quando Wilson Rodriguez, proprietário do lugar, resolveu fechar a primeira. Segundo Rodriguez, as salas Fernanda Montenegro e Marília Pêra, com capacidade para 385 e 410 espectadores, respectivamente, têm recebido público de, em média, 50 pessoas.
Não muito longe, aqui em Juiz de Fora, a cultura vem enfrentando maus bocados. Último cinema de rua fechado. Teatro, como o do Paschoal Carlos Magno, que seria construído pela prefeitura, no centro da cidade, com obras paradas. Espetáculos com média de público baixíssima.

No Grupo Divulgação, grupo do qual faço parte, estamos em temporada desde o dia 24 de maio, com uma peça que se encerrará no próximo domingo, dia 2 de julho. Mesmo com um projeto validado há anos, Escola de Espectador, onde levamos escolas municipais e estaduais da região para assistir gratuitamente aos espetáculos, o índice de professores interessados em levar os alunos e dos próprios alunos em ir às apresentações é de dar tristeza. Público pagante não consegue suprir a produção dos espetáculos: cenário, figurino, iluminação.
De acordo com uma matéria publicada pelo jornal O Globo, a presidente da Associação de Moradores do Leblon, Evelyn Rosenzweig, diz que foi procurada por vizinhos do teatro, muito preocupados com o possível destino do espaço. Ela afirma que será uma pena se o local for vendido: “o teatro alimenta o comércio, que, por sua vez, mantém o movimento na rua e nos dá segurança. Mas a crise está dificultando muito as coisas.”
Na panfletagem feita todos os sábados para levar público aos espetáculos do Divulgação, ouvimos essa fala da boca de antigos espectadores, que a rua Santo Antônio (onde o Forum da Cultura, palco do Divulgação, se encontra) é muito deserta, com uma iluminação baixa e onde vem ocorrendo diversos assaltos. Será mesmo somente a falta de segurança que impede as pessoas de saírem de casa? Ou o desinteresse pela arte que traz o homem diante do homem?
As pessoas estão cada vez mais presas em seu mundo virtual, em suas bolhas individuais, e as relações humanas mais escassas. A cultura não é valorizada pelo público, nem muito menos pelas autoridades. Sem incentivo, o dinheiro que poderia ser destinado à arte é desviado para outros setores, quando não para o bolso dos próprios políticos responsáveis. 2018 tem eleições, a chance de um respiro: o mítico deve ficar no palco, nos roteiros das peças, não na política. Como comecei, encerro: “Mede-se a cultura de um povo pelo seu teatro”.
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