A questão Venezuela
- Caio Ferreira
- 4 de ago. de 2017
- 3 min de leitura
A Venezuela vem passando por um processo conturbado de crise política e financeira, e para nós, brasileiros, é cada vez mais difícil entender esse processo pelo qual o país vizinho vem passando.
Durante 14 anos, a Venezuela foi Governada por Hugo Chávez, que implementou o regime socialista no país, através da Revolução Bolivariana. Segundo dados do relatório da ONU de 2016, o índice de desenvolvimento humano (IDH) da Venezuela em 2015 foi de 0,767, o que colocou o país na categoria de elevado desenvolvimento humano, ocupando a 71º posição entre 188 países e territórios. De 1990 a 2015, o IDH da Venezuela aumentou de 0,634 para 0,767, um aumento de 20,9%. A esperança de vida ao nascer subiu 4,6 anos, o período médio de escolaridade aumentou 4,8 anos e os anos de escolaridade média geral aumentaram 3,8 anos.
Chávez governou a Venezuela entre os anos de 1999 até sua morte em 2013,quando o seu vice, Nicolás Maduro, assumiu o posto de presidente do país e governou pelos 2 anos restantes do mandato. Nas eleições de 2013, Maduro foi eleito presidente do país com 50,66%. Chávez, antes de ir a Cuba para a última fase do tratamento contra o câncer que levou à sua morte, pediu que a população apoiasse o vice-presidente. Nicolás Maduro não teve a habilidade política do seu antecessor e nem conseguiu controlar a crise econômica enfrentada pelo país a partir de 2013, causada principalmente pela queda nos preços do barril de petróleo, pilar da economia venezuelana. Esse processo ajudou a oposição a se fortalecer e a se obter maioria na Assembleia Nacional (equivalente ao Congresso brasileiro). Nas eleições de 2015, aconteceu a primeira derrota eleitoral do chavismo, agora tendo o Maduro como seu principal representante. Partidos de oposição que fazem parte da Mesa de Unidad Democrática (MUD) conquistaram dois terços das cadeiras.

Luis Vicente León, diretor do Instituto Datanálises
O diretor do Instituto Datanálises, um dos mais importantes institutos de pesquisas da Venezuela, Luis Vicente León contou em entrevista à Pública que entre 2016 e 2017, quando a crise de abastecimento de alimentos alcançou o seu auge no país, a popularidade de Maduro aumentou 6 pontos percentuais de apoio popular, passando de 18% a 24% de aprovação. Segundo Luis, isso tem a ver com uma parte importante da população que é independente, 35% dos venezuelanos se autodefinem independentes: nem chavistas, nem opositores”. No entanto, ele diz que 90,5% dos venezuelanos acham que o país está mal ou muito mal e 70% responsabilizam Maduro, pessoalmente, por isso.
A guerra entre os dois poderes acirrou-se ao longo de 2016. Uma tentativa de diálogo, acompanhada pelo papa Francisco e a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), no final do ano, foi por água abaixo. A criação de uma Assembleia Constituinte, proposta por Nicolás Maduro no último 1o de maio, e votada pela população no último dia 3o de julho, elegeu os 545 constituintes, que colocarão em prática a nova constituição, que segundo os governistas, busca dar continuidade ao processo de implementação do sistema Socialista no país. Já para a oposição, se levada adiante e empossada, a Constituinte suplantará todos os demais poderes – e, portanto, o governo pode comandar ou extinguir a Assembleia Nacional venezuelana (equivalente ao Congresso brasileiro). O governo promete um referendo popular apenas no fim do processo.
Toda essa crise política e econômica está polarizando o país, com manifestações e repressões violentas vindas dos dois lados, e a mídia venezuelana está igualmente polarizada, o que dificulta ainda mais a compreensão do que vem acontecendo na Venezuela. A jornalista Natalia Viana, repórter da Pública, passou três semanas no país para ouvir o que dizem os venezuelanos e seus líderes e comentou sobre como funciona a mídia venezuelana.
“Assim como nesse episódio, tudo o que acontece na Venezuela é cercado de desinformação e enevoado pelas fake news espalhadas por apoiadores do governo e da oposição. Na política venezuelana, tudo é espetáculo. Por isso, esqueça muito do que você leu por aí: a Venezuela não está vivendo uma catástrofe humanitária pela falta generalizada de alimentos; o governo de Nicolás Maduro não vai cair amanhã; a polícia nacional não está massacrando manifestantes a rodo nas ruas. Mas também não é verdade que tudo está bem e que as manifestações e a violência em torno delas são fruto de “terroristas” armados, como dizem os apoiadores do governo.” -
Países Capitalistas e com governos neo-liberais, como Estados Unidos e Brasil, declaram apoio à oposição venezuelana e guerra ao chavismo socialista, o que dificulta ainda mais o acesso à informações confiáveis sobre a questão venezuelana.
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