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O fim melancólico e profundo de uma trilogia

  • Vinícius Grossos
  • 20 de jun. de 2017
  • 4 min de leitura

Crítica referente ao terceiro álbum de estúdio da cantora e compositora sueca Lykke Li, intitulado ‘I Never Learn (Eu nunca aprendo, em tradução livre).

Para entender as profundas camadas de significado que Lykke Li quis passar com seu terceiro disco, e considerado a finalização de uma trilogia criada pela própria, primeiro precisamos compreender o histórico da artista no mundo musical.

Primeiramente, em 2008, Lykke Li fez uma ótima estreia com seu disco ‘Youth Novels’; o álbum foi bem recebido pelo público e pela crítica, entrando em várias listas de melhores álbuns lançados naquele ano. As músicas e sonoridades apresentadas eram otimistas e, de certo ângulo, até pueris; exalavam uma palpável ingenuidade espontânea. (“Tenho problemas para contar como eu me sinto/ Mas eu posso dançar, dançar, dançar/ Mas eu posso dançar, dançar, dançar”, trecho de ‘Dance, dance, dance’).

Logo após, em 2011, os primeiros vestígios de um amadurecimento que viria a se aflorar no último álbum constituem mais um disco querido pela crítica, ‘Wounded Rhymes’. Neste ponto da carreira, Lykke Li canta sobre temas mais fortes, trazendo uma aura psicodélica e forte à sua música, ao mesmo tempo em que suas composições esbarram no escandaloso e polêmico. (“Não puxe as calças antes de eu ir aí embaixo/ Não vire as costas, esta é minha hora/ Como uma arma precisa ser maleada/ Eu sou sua prostituta, você vai se dar bem”, trecho de ‘Get Some’). Foi com este álbum, também, que Lykke Li viu sua música, até então considerada alternativa demais para tocar em rádios e em programas mais populares, ganhar as pistas de dança e se tornar o maior sucesso comercial de sua carreira com a famosa ‘I Follow Rivers’.


Anos após, já em 2014, o sucesso explosivo de ‘I Follow Rivers’, ao contrário do que a crítica temia, não levou Lykke Li a estacionar numa zona de conforto ou a tentar repetir a fórmula de sucesso. Muito pelo contrário: com ‘I Never Learn’, a cantora dá mais um passo em sua carreira, arriscando, expondo-se e deixando transbordar em demasiado uma exposição muito rara de se ver no meio musical nos dias atuais.



A capa do álbum em preto e branco eficazmente traz uma sensação intimista, já ditando previamente em que tom as músicas se encontram. Se você procura aqui a felicidade espontânea do primeiro disco, ou a sexualidade latente do segundo, cuidado para não se decepcionar. Lykke Li está aberta, no sentido mais profundo que a palavra possa exprimir; ela mostra já na capa, na imagem de seu olhar, por detrás de uma possível santificação, e através de um comovente luto, a melancolia que sua alma irá nos apresentar, e que ela não irá nos poupar – se você quer ouvir o disco, esteja disposto a enfrentar o que está por vir, porque como é aconselhado no título do álbum ‘ela nunca aprende’, e esses erros estão todos aqui, expostos e latentes.

Lykke Li está abaixo do fundo do poço – um relacionamento importante se desfez, e há dor, tristeza, arrependimento, autopiedade, medo e saudade. Tudo isso misturado a um tom introspectivo e puramente sincero, que já nos deixa curiosos, e por que não lisonjeados, com tal coragem.

A primeira música desta compilação é a que dá nome ao álbum; ‘I Never Learn’ cumpre com maestria o papel de nos introduzir na atmosfera do disco. Um solo de violão, com vocais carregados entoando os pequenos versos da música, são responsáveis por nos transportar para o coração triste da artista. “Eu irei morrer aqui como sua amante fantasma/ Eu nunca aprendo, eu nunca aprendo”, Trecho de I Never Learn).

Seguida por ‘No Rest for the Wicked’, em tradução livre, ‘Sem Descanso para os Cruéis’, primeiro single do álbum e que nos estabiliza no universo criado. Aqui, Lykke Li nos conta (e canta) sobre arrependimentos, solidão e uma sofrida autopunição, embalada por um toque de piano singelo que explode, no refrão, em um coro forte e cru. (Eu magoei o que era bom/ Eu deixei o meu verdadeiro amor morrer/ Eu tinha seu coração, mas o quebrava sempre).

O disco continua bebendo da inspiração agridoce causada pelos erros da personagem criada na composição do álbum, e em faixas como ‘Just Like a Dream’, ‘Silverline’ e ‘Love me Like I’m not Made of Stone’, chega a ser comovente o sentimento impregnado em suas composições e melodias.

Metaforicamente, há nas músicas a imagem de uma viúva percorrendo um caminho sólido e maduro de dores e sentimentos depressivos verdadeiros, entretanto, o alvo do amor da personagem não está morto fisicamente. Só há a morte do coração de Lykke Li, e a dor que lhe restou.


Mórbido, coerente e comovente, Lykke Li consegue mostrar todas as suas verdades, numa compilação de músicas que soam coerentes e sinceras. I Never Learn é sim, sintetizando, um disco sobre fim, esgotamento emocional e descrença no futuro; um irresistível pacote pra quem gosta de se sentar no fundo do poço e esquecer a luz do dia, enquanto reflete por que deu errado. De maneira madura, Lykke Li abandona a fé e louva unicamente a própria dor como elemento que não deve trazer cura ou solução, mas que ao menos é a única ligação que lhe restou do relacionamento que não existe mais.



Curiosamente, a maturidade que impera no decorrer da obra está longe de isolar musicalmente o trabalho da cantora. I Never Learn abraça de vez o pop tradicional, porém, encontrando argumentos para ecoar um sentimento de novidade. Mesmo em meio a arranjos orquestrais que dão uma aura clássica ao material, como os de Just Like A Dream, é difícil não ser hipnotizado pelo balanceamento essencialmente comercial que ocupa a obra. O que é No Rest For The Wicked senão uma adaptação inteligente dos conceitos já lançados por Adele, Amy Winehouse e qualquer outro nome de peso da música pop?

Qual seria então o grande trunfo de Lykke Li? Talvez, mesmo soando como mais um disco sobre dor e perda, I Never Learn brinda o ouvinte com uma identificação exagerada e uma sinceridade tocante. Créditos a Yttling, Kurstin, os produtores, ou da própria cantora? Isso é irrelevante, pois o que poderia ser o uso de uma fórmula certa para comover, ganha novas proporções, profundidades e camadas neste trabalho.

Um final coeso e agradável para quem acompanhou a trilogia criada por Lykke Li, e que talvez o faça mergulhar em um mundo de memórias sobre perdas, amores e dor, até porque, quando se trata de amor, a gente nunca aprende.


 
 
 

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